quinta-feira, 7 de junho de 2012

CÍRCULOS QUE SE TOCAM

05-07-2012

Não prevendo na lógica
Ou na metáfora dos números
Vamos percorrendo no tempo
Desta passagem pela vida
Caminhos e percursos próprios
Cada um seguindo seu rumo
Criando geometricamente à sua volta
Uma imensidão de momentos
Gentes e ocasiões num espaço
Como um circulo se alargando
Ao longo do tempo passando
Uns se afastam sua vida constroem
Criam-se laços em cada círculo
Que em algum instante ou imprevisto
Se desfazem ou se cruzam
E ao longo de rectas e curvas
O reencontro há muito perdido
Ou o encontro por acaso
Destino fortuito ou marcado
Os círculos por cada um desenhados
Se tocam num ponto num momento
São comuns e coincidentes
As gentes e as ocasiões
Os amigos ou conhecidos
Em espaços passados presentes
E amigos se reencontram
E amigos de amigos que curioso
Lembrando histórias e vidas
Que desconhecidos ou conhecidos
Os círculos dos comuns partilharam
Identificando os percursos de uns
Como se fossem seus e de todos
É assim que de repente o mundo
Com rostos em novas janelas
Se torna uma aldeia campestre
Onde todos se conhecem e reconhecem
Alargando mais o círculo
Quando depois de tanto tempo
São mostrados os valores
São equacionados os princípios
E se reconhecendo a fórmula
Como em osmose se fundem
Ou numa chama se volatilizam.
É assim a maravilhosa dança
Dos círculos mágicos que se tocam.

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terça-feira, 5 de junho de 2012

CAMINHO NO DESERTO

04-06-2012

Como caminhante num deserto árido
Seco e sedento de seiva
Meus passos vão deixando
Lenta e pacientemente
Pegadas soltas e profundas
Como uma paixão ardente
No calor tórrido e abrasador
Que queimam meus pés cansados
De tanto percorrer procurando
Outras pegadas esperando
Por uma gota de água
Uma sombra
Onde poisar e refrescar
Meu corpo e minha alma
Ávidos do colo que suspiram
Daquele corpo maravilhoso
Daquele sorriso que seduz
Daquele olhar que me embevece 
Me encanta e enfeitiça.
Caminho lentamente pelo deserto
Onde passos se descurtinam
Passos que tropeçam
Passos que recuam e bloqueiam
Compreensivelmente
Num sentido e destino por vezes vazio.
Já me encontrei num oásis
Nesse paraíso me quedei
Bebi avidamente do mel
Saciei a sede por momentos
Como numa alienação perdida
Imaginando se era sonho
Provei e bebi era real esse maná
Podia continuar a saboreá-lo.
Como se de uma miragem se tratasse
Se esfumou a fonte que o alimentou
De novo o deserto presente
Caminhando errante sem rumo
Uma sombra ligeira se manteve
Mesmo noutro sentir de si
Como um refúgio temporário
Onde por um milagre qualquer
Um rouxinol me acompanhava
Cantando suas doces melodias
Sob o luar que nos cobria
Como aquele que alumia os amantes
Em noites encantadas partilhava
O rouxinol alegre cantava
E eu soletrando suas canções
Parecendo uma suave companhia
Me trazendo de novo o aroma
Não saboreado mas arejado
Numa sinfonia completa me levava
E com alegria lhe presenteava
Pedaços de asas e sonhos
Que só o rouxinol os conhece.
Mas a noite caiu rápida
Fria e desconcertante
Quando o dia despontou
O rouxinol impaciente
Bateu asas e voou
Sentindo que era hora
De sua liberdade procurar
Quedando-me eu de novo
Perdido e confuso na areia
Desse deserto seco e árido
Procurando no horizonte vasto
Vislumbrar se na linha do meu
Um ténue traço se cruzava
Com seu esvoaçar perdido
Procurando vozes e sorrisos
Que lhe encham o peito de alegria
Vai e vem o rouxinol
Pousando nos ramos saltitando 
Me lembrando sua presença
Harmoniosa e graciosa
E eu sorrindo lhe amparo
Dou minha mão estendida
E flores que guardo em mim
Que como por artes mágicas
Vão surgindo do meu interior
Procurando que as pétalas que espalho
Suavizem suas doces e leves penas
Dando luz e calor em seu caminho
Mostrando meu sentido e colorido
Umas vezes parecem adornar
Seu percurso seu esvoaçar
Outras parecerão indiferentes
Talvez na forma ou no gosto
Não sei
Talvez o malmequer me diga.
Neste meu deserto mágico
Onde existe um jardim real
E pedaços de sonhos sonhados
Rego todo os dias minhas flores
Minhas árvores que dão sombra
Não sei se o rouxinol as quer
Não quero que de tanto as regar
Afoguem seu canteiro
No seu vai e vem intermitente
Que entendo seu desnorte
Sua vontade e sua prisão
Que quer voar procurando
Procurando e rebuscando
Por entres rios e ventos revoltos
Voltando ao porto de partida.
Sei o que sentes rouxinol
E me emociono com teu sentir
Continuo meus passos neste deserto
Seguindo em frente no calor
Que por vezes me confunde
Com seus raios de sol
Que se abatem sobre mim
Fulminantes como setas pontiagudas.
Neste caminhar errante
Perdido de algum sentido
Timidamente lhe alvitro
Se quer minha companhia
Minha mão meu desvelo
Continuo meu caminho
Pelas areias do deserto
Pisando e calcorreando
Esperando por alguma gota solta
Saboreando na secura do sol
O fel amargo e salgado
De meus lábios gretados.
Olhando no horizonte perdido
Onde linhas se cruzam e descruzam
Que por vezes são coincidentes
Outras parecem divergentes
Em determinado tempo
Em algum tempo se encontram.
Pois que no meu olhar sei o norte
Desse meu horizonte claro
E entendo o nevoeiro pairando
Com o calor de sol se irá dissipando
Mas neste deserto que piso
Minhas pégadas continuam
Soltas e profundas
Nesse calor tórrido
Como uma paixão ardente.
Por mim não te esqueço rouxinol
Mas não esqueço de mim também
O deserto é longo e árduo
Mas meus passos largos
Claros e determinados
Sabem que para o percorrer
Leva tempo e perseverança
Das pedras faço a esperança
E compreendo seu esvoaçar
Porque do deserto se pode ter
Um paraíso eterno e fresco
De pegadas lado a lado
Se unidos no mesmo desejo
Onde não sejam pedaços
Mas um todo no seu querer
Que juntos inteiros caminham
Numa liberdade partilhada.
Se meus passos são firmes
Como um cavalo galopando
Minha determinação também
Está serena minha alma
Meu coração vive e bate forte
O deserto terá seu fim
Num suave entardecer talvez 
Pois ninguém é digno do oásis
Se não aprender a atravessar seus desertos.