terça-feira, 3 de janeiro de 2017

RENDILHADO MÁGICO

A magia não se cria,
Reinventa-se, descobre-se, desnuda-se,
Desfolhando os pedaços de beleza,
Que em tudo nos é dado observar,
Se estivermos dispostos a fechar,
A visão vulgar das coisas,
E abrirmos de par em par,
Com um sorriso nos lábios,
O olhar quente do coração.
Não se colhem apressadamente os detalhes,
Não se finge que se vê o que a alma não sente,
Nem no vislumbre fugaz daquela árvore,
À beira rio curvando-se,
Perante o Tejo ou o suave Douro,
Onde outrora se erguia imponente no seu porte,
Mas na beleza que teima e permanece,
No rendilhado das suas folhas,
Feitas em filigranas delicadas,
Não de ouro tingidas ou salpicadas,
Mas de verde e ocre puros,
Que o sol resplandecente lhes crava,
E que só os teus e os meus olhos vêm,
No caminho que de mão dada calcorreamos.
Porque só eles conseguem descobrir,
Nesse e noutros pormenores,
A magia desse corpo, nu e efémero.
Que finando o Outono, cai e desfalece,
Mas num passe mágico e persistente,
Que só o tempo o permite,
De novo na Primavera florescerão,
Cheias de vigor e luzentes,
E no calor do Verão seus finos ramos,
Como bilros em fusos subtis,
Desenham novas folhas, rendas e bordados.
Sim, é magia e são sonhos,
Que nossos olhos perscrutam,
Naqueles momentos únicos, que somados,
Ontem, hoje e amanhã,
Os continuarão a manter vivos e encantados,
Porque eles sucedem-se continuamente,
Porque queremos verdadeiramente olhar,
E sentir como nossos, o que poderia ser de muitos,
Mas que só a alguns, e a nós,
É permitido sonhar e olhar.
Apenas porque sim,
Por estarmos lá, e sabermos estar.

(03 de Janeiro de 2017)

Photographer: Teresa Dias