quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

AGASALHO DE MÃE

11-12-2013
AGASALHO DE MÃE

De um novelo de lã,
Tecido por mãos mestras,
Na tua mão é aquele mundo
Feito bola colorida,

De cores mescladas de esperança,
No tempo feito da tua vida.
Desfias os nós com destreza,
Cruzando e alinhando as linhas.

Como se fossem as voltas da vida
Um belo colar traçado em voltas,
Envolverá teu fruto em conforto,
E de tuas doces mãos feito,

Hoje homem de novo sentirá
A suave carícia e aconchego,
Como os afagos de outrora
Enquanto crescia em teu ventre!

terça-feira, 30 de julho de 2013

TRISTEZA

30-07-2013

É um nó apertado em guilhotina
Que transforma a voz num silêncio fundo
Dum soluço que teima em ficar
Sem razão aparente de sufoco.
É uma dor dilacerante que queima
Transborda do peito seco
Às profundezas da alma inquieta
Num queixume torpe que rompe
Das palavras ditas e ouvidas
(Mal)ditas ou (in)compreendidas.
No silêncio perpétuo que luta
Dia após dia nessa vida persistir
Que acreditanto no seu valor
Vai teimando em querer ficar
Esperando o coração insistir
Do fardo trazer à razão.
Nas palavras que a jorro brotam
Sem olhar o quanto ferem
Transfiguram à toa o sentido
Dando voz à revolta atróz
Que tanto procura impedir
Esperando que o tempo sare
As feridas abertas como chagas
Que na garganta um nó apertado
Faz brotar lágrimas a rodos
De uma tristeza impotente!     


sexta-feira, 24 de maio de 2013

SIMPLICIDADE DAS COISAS


24-05-2013

A beleza não consiste na opulência
No glamour e deslumbramento
De castelos e lugares artificiais, 
Ela existe e persiste em cada detalhe,
No requinte de cada momento,
Na atitude e nos gestos
Que integram em cada um
E que se tornam grandiosos
Na forma simples e bela
Que se proporciona ao meu olhar.
Talvez aquele recorte da talha que adorna,
No singelo candelabro que do tecto pende,
Ou na tela outrora pintada,
Por mãos simples e cheias de arte,
Que compõem o salão nobre.
Mas a simplicidade das coisas,
Está no brilho que meus olhos sentem,
No calor que invade o corpo,
Na serenedidade que transmite
Na pacificação da alma em desassossego.
Flui do impacto e percepção,
De um simples traço nas águas,
desenhado pelo flutuar de um cisne,
Ou na quietude das folhas e ramos,
Daquela árvore imponente que se ergue,
Do azul claro e limpo como fundo
E que meu corpo estendido na relva,
Bucolicamente observa
Todas as pequenas coisas
Que a Natureza nos oferta.
Nas contrariedades da vida,
Próprias dela mesmo,
Onde realça como bálsamo presente,
Um olhar cândido e meigo,
Que combina na perfeição,
Com um sorriso sereno,
Com a simplicidade do ser.
Na grandiosidade do gesto,
Simples mas pleno de ternura.
Ah, que paz e serenidade,
Esses gestos simples e silêncios,
Que dizem nos olhos,
O que palavras e adjectivos,
Não conseguem transmitir e decifrar,
porque não há razões e explicação,
Para a linguagem simples do coração!



sexta-feira, 8 de março de 2013

MULHER CRISTALINA


Caminhando por entre as árvores do destino
Como num bater de porta mansinho
Fui ter contigo àquele lago transparente
Procurando pela água cristalina
Que os raios de sol em prata reflectiam.

Encontrei-te, ofegante eu de desejo
E como num passe de mágica te vi
De prata transformada em ouro
Naquele brilho que teus olhos tomam
Quando doce e cândida me sorris.

O toque e suave gesto de tuas mãos
Me encantam, exaltam e enaltecem
A pureza de toda a tua essência
Que transborda em teu lindo rosto
Em tuas sábias, serenas e belas palavras.

Como o velho Midas, mas tu jovial
Em tudo o que tocas transformas
Da riqueza dourada que há em ti
Em maravilhosas e simples melodias
Que dão colorido e vida à minha vida.

Com a alegria e simplicidade da tua beleza
Os que por ti passam te saudam e se alegram
Num contentamento contente e deslumbrante
De sentirem sempre em cada um, um novo dia
Plenos da luz e encanto que transmites.

Árduo, longo e penoso o caminho
Que trilhaste até aqui chegar
Desde a infância, jovem e adulta
Depressa na labuta mulher te tornaste
Dos frutos que geraste e no teu colo carregaste.

Na dor buscaste a pungente força
Do suor e lágrimas a tua coragem
A todos com amor cuidaste e acudiste
Esse amor que advém da cruz pesada
Mas que a levas na suave leveza do teu ser.

És filha, mãe e mulher amada
És amiga, confidente e complacente
Que das mais cinzentas nuvens
Fazes abrir os raios do teu sol
Dando teu calor e dourado brilho.

Sim, és MULHER merecida e criança
Que continua lá dentro a existir
Nunca a deixes fugir, dá-lhe asas
Para que voe sempre solta e traquinas
E de braços abertos correr sempre até ti. 


terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

NINFA BELA E DOURADA


26-02-2013

Bem perto de mim encontrei
O tesouro que tanto procurei
Sem encontrar noutro lugar
Lá longe no fundo do mar,
Atravessei longos desertos
Áridos, secos e tórridos
Que me fizeram queimar e sofrer.
Sombras e escuridão vivi.
Encontrei-te afinal bem perto de mim,
Num lago de pedras e ouro
Deste-me o esplendor da tua luz
A alegria e gosto do teu mel
Como um maná vindo dos céus.
Via-te correr para mim
Ávida do encontro e eu
Descobrindo o que há muito
Em mim estava fechado,
Guardado para ti pensei eu.
Feliz achei meu amor,
Tesouro de ouro tão almejado!
Com tua candura e meiguice
Fizeste-me acreditar de novo,
E convenceste-me serenamente
Mudando o rumo das minha convicções
Em certezas, tantas dúvidas e contradições
Tal como outrora sentia
E o tempo devorara.
Devolveste-me a esperança do sonho,
Como um ninho a seu tempo construir
Com  gravetos de amor e carinho!
Saudades de não mais te ver correr,
Antes o temor do reencontro,
O tempo sem tempo e eu apenas,
Num desnorte sem saber
Se foi uma quimera esse ouro
Se foi uma miragem linda que vi
Num  oásis algures perdido
Daquele deserto ardente,
Pois meu peito sedento arde
Como no fogo do amor

.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

ALZHEIMER


08-02-2013

Maldito monstro que corrompes
Toda a dignidade e memória
Do que se é e se foi
Que levas oculto no teu ventre
Todas as lembranças de uma vida
Destróis o certo e o errado
Que fazem parte dum ser.
Por ti, pelos teus enleios e meandros
Tantas vezes ela pergunta e chama
Pelo outro que há muito partiu
“Onde está o teu pai?”
Por causa de ti besta incógnita e demente
Pergunta quem sou ou onde estou
Estando eu à sua beira inclinado
Acariciando seu sedoso e branco cabelo.
Criaste não sei com que propósito
Um mundo próprio e vazio
Vazio de sentir e de recordações.
Essas recordações que nos foram tão caras
Construídas com carinho e labor
Que deram razão à existência,
Vão-se apagando lentamente
Numa voracidade sem limites e sem destino.
Tornaste a força de um ser brando
Numa fragilidade mordaz e vegetal.
Transformaste a inteligência em demência,
A alegria e vontade num vazio ôco de nada.
Consegues o que nenhum homem,
Ditador ou perverso ser 
Fez da dignidade humana,
Retirar do cérebro e da mente
A única coisa verdadeiramente sua.
A liberdade de pensamento
E de agir seguindo eles em passos certos.
Tornaste a vida do dia a dia
Num morto-vivo andante
Sem rumo, sem eira nem beira.
Apareceste sem se dar por isso,
Teimas em ficar permanente!
Como ao demónio te renego,
Mas como um dragão invisível que és
Não posso como desejaria
Trespassar-te com uma espada
E enterrar-te de vez no fundo dum vulcão.
Mas podes ter a certeza
Vil monstro desprezível
Que nunca ma roubarás,
Nem de mim a separarás
Porque só algo que não conheces,
Porque és odioso e horrendo,
Te poderá combater com virtude
O amor por esse ser que irá até ao fim!


sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

NA PASSAGEM DO TEMPO


25-01-2013

O tempo marca as marcas do tempo
Que numa viagem sem destino se prolonga
Caminhando, vagueando ou correndo
Segue seu percurso sem esperar
Sem querer saber se tens rumo ou tino
Sem se preocupar com o teu tempo
Sem parar nem seguir o teu ritmo
Inexoravelmente prossegue o seu trajecto
Quer queiras aproveitar ou ignorar,
Pouco importa, não tens mão nele
Nada o sujeitas, nada podes mudar nele.
Como num comboio desenfreado
Apenas podes se for o teu tempo
Agarrar o braço que se te estende
Subindo o degrau da carruagem
E confortável seguir nele a contento.
Ou  se não for o dele o teu destino
Apeares-te na próxima estação.
Não é o tempo que decide o teu risco
É a tua decisão que dele impera,
Se a reconheceres e souberes tomar.
Pois  se ficares parado indeciso
Naquele breve e oportuno momento,
Suavemente ele continua a sua linha
E tu no meio do trilho ao vento,
Vê-lo seguir sem ti,  cada vez mais longe,
Desaparecendo como um ponto no horizonte.
Ficas em dúvidas e angústias sem saber
Se o medo te tolheu e se te arrependerás
Nunca com certeza o saberás,
Como as oportunidades que se perdem
E não voltam mais no tempo.
Não vale a pena chorares ou ter pena,
O tempo não cede a rogos nem a lágrimas,
Apenas marca a hora que passou!