por entre o nevoeiro cerrado
o marinheiro procurava o seu rumo
sulcando tenazmente as ondas,
antes tempestuosas,
perscrutando serenamente aquela luz ténue
dum farol lá longe no meio do nada
que ele sabia lhe daria o norte
o sul, o este e oeste, qualquer rosa
que seja dos ventos, ou dos espinhos
divagando se estaria perdido no meio do nada
ou seria um fogo profundo que lhe toldavam
os sentidos, sem parar de remar
num barco sem ninguém, sem timoneiro
apenas o seu instinto de homem de terra
agarrando-se à única tábua, da tenacidade
sem leme ou bússola nem sextante
apenas as estrelas por cima do nevoeiro
o guiavam fugazmente à noite num sentido
o caminho rumo ao horizonte, qual utopia
sonho ou pesadelo, seria dia ou noite, seria mar
ou deserto pois que seus pés ardiam em brasa
ou estaria apenas deambulando
pelas ruas, estradas, casas ou serra
esperando apenas pela bonança
ou por uma manhã fresca de brisa suave;
e parou
parou, o homem feito marinheiro
para falar consigo mesmo, olhando o céu
agora limpo e claro
erguendo a cabeça numa prece silenciosa
feita de contemplação, esvaziando a mente
de pensamentos, interrogações ou pesos
que carregava nos seus ombros e lá dentro
bem fundo no seu peito;
e sorriu
sorriu para si mesmo e para as mãos
que tanto tinham remado em contracorrente
e sentiu paz
aquela paz que só encontramos dentro de nós
da luz que vem do farol chamado consciência
do amor próprio que só ela lhe dá
sereno e transparente na sua alma
reencontrando-se por fim no que sempre foi.
(Adriano Costa - 04/08/2021)
(Ariano Costa, 04/08/2021)