quarta-feira, 4 de agosto de 2021

um farol entre o nevoeiro

por entre o nevoeiro cerrado

o marinheiro procurava o seu rumo

sulcando tenazmente as ondas,

antes tempestuosas,

perscrutando serenamente aquela luz ténue

dum farol lá longe no meio do nada


que ele sabia lhe daria o norte

o sul, o este e oeste, qualquer rosa

que seja dos ventos, ou dos espinhos

divagando se estaria perdido no meio do nada

ou seria um fogo profundo que lhe toldavam

os sentidos, sem parar de remar


num barco sem ninguém, sem timoneiro

apenas o seu instinto de homem de terra

agarrando-se à única tábua, da tenacidade

sem leme ou bússola nem sextante

apenas as estrelas por cima do nevoeiro

o guiavam fugazmente à noite num sentido


o caminho rumo ao horizonte, qual utopia

sonho ou pesadelo, seria dia ou noite, seria mar

ou deserto pois que seus pés ardiam em brasa

ou estaria apenas deambulando

pelas ruas, estradas, casas ou serra

esperando apenas pela bonança

ou por uma manhã fresca de brisa suave;


e parou

parou, o homem feito marinheiro

para falar consigo mesmo, olhando o céu

agora limpo e claro

erguendo a cabeça numa prece silenciosa

feita de contemplação, esvaziando a mente


de pensamentos, interrogações ou pesos

que carregava nos seus ombros e lá dentro

bem fundo no seu peito;

e sorriu

sorriu para si mesmo e para as mãos

que tanto tinham remado em contracorrente


e sentiu paz

aquela paz que só encontramos dentro de nós

da luz que vem do farol chamado consciência

do amor próprio que só ela lhe dá

sereno e transparente na sua alma 

reencontrando-se por fim no que sempre foi.


(Adriano Costa - 04/08/2021)



 

(Ariano Costa, 04/08/2021)