sexta-feira, 8 de outubro de 2021

perguntei ao mar

perguntei ao mar por alvíssaras 

do reino encantado onde um dia

vislumbrei por entre a neblina

uma sereia e seus encantos

em tudo iguais no seu ser

às histórias de encantar e sonhar


que só uma inocente criança entende

ou um homem feito na sua inocência

e em cujo peito ainda acredita

que a magia dos gestos e sentires

dos olhares transparentes, simples

ainda existem neste universo


que a beleza e candura são possíveis 

e que o tempo traçado dia a dia

torne recto este mundo controverso

e que das linhas e traços tecidos

com ardor, paciência e vontade

se desbrave um rumo certo


e é esse o caminho do homem feito 

acreditando na sua esperança 

dando e fazendo aquilo que é

em todo o seu ser e sentir

construindo pedra a pedra

aquilo que partindo de si, se dá 


sem fadiga, sorrindo serenamente

pois que são sorrisos o que procura

nos afagos que docemente acaricía

apenas por ser mel e bem-querer 

o que do seu peito brota 

levando o calor, colo e ternura

a essa sereia bela e encantada 

que tanto encanta no seu canto

na sua voz, rosto e ah...no seu sorriso


e o mar não responde mas 

entoa àquele homem feito,

tal como à criança que na praia 

corre e salta e pula e faz castelos,

canções de embalar e acalmar

que as ondas claras transmitem

ao abraçarem a areia fina


e a criança alegre entende

e molda o seu castelo e ameias, 

e o homem feito entende

que o sonho se constrói com as mãos


(Adriano Costa, 7 de Outubro)



quarta-feira, 29 de setembro de 2021

laços


laços

feitos de meadas

e madeixas coloridas

são extensões de abraços

sorrisos e olhares

que se unem

são vida e cor

que se desdobram

(suave e delicadamente)

e abrem-se ao horizonte

caminhando e cantando

no caminho que se estende

num mesmo olhar

traçado e cuidado

brindando

à liberdade de se ser

simplesmente

(Adriano Costa - 28/09/2021)



quarta-feira, 4 de agosto de 2021

um farol entre o nevoeiro

por entre o nevoeiro cerrado

o marinheiro procurava o seu rumo

sulcando tenazmente as ondas,

antes tempestuosas,

perscrutando serenamente aquela luz ténue

dum farol lá longe no meio do nada


que ele sabia lhe daria o norte

o sul, o este e oeste, qualquer rosa

que seja dos ventos, ou dos espinhos

divagando se estaria perdido no meio do nada

ou seria um fogo profundo que lhe toldavam

os sentidos, sem parar de remar


num barco sem ninguém, sem timoneiro

apenas o seu instinto de homem de terra

agarrando-se à única tábua, da tenacidade

sem leme ou bússola nem sextante

apenas as estrelas por cima do nevoeiro

o guiavam fugazmente à noite num sentido


o caminho rumo ao horizonte, qual utopia

sonho ou pesadelo, seria dia ou noite, seria mar

ou deserto pois que seus pés ardiam em brasa

ou estaria apenas deambulando

pelas ruas, estradas, casas ou serra

esperando apenas pela bonança

ou por uma manhã fresca de brisa suave;


e parou

parou, o homem feito marinheiro

para falar consigo mesmo, olhando o céu

agora limpo e claro

erguendo a cabeça numa prece silenciosa

feita de contemplação, esvaziando a mente


de pensamentos, interrogações ou pesos

que carregava nos seus ombros e lá dentro

bem fundo no seu peito;

e sorriu

sorriu para si mesmo e para as mãos

que tanto tinham remado em contracorrente


e sentiu paz

aquela paz que só encontramos dentro de nós

da luz que vem do farol chamado consciência

do amor próprio que só ela lhe dá

sereno e transparente na sua alma 

reencontrando-se por fim no que sempre foi.


(Adriano Costa - 04/08/2021)



 

(Ariano Costa, 04/08/2021)