segunda-feira, 27 de junho de 2022

Angústia

Sem propósito nem hora marcada, eis que chega inesperadamente.

Invariavelmente sem aviso prévio e sem dizer como, instala-se.

Não ocupa espaço, preenchido que fica pelo vazio,

ensombrando a alma e apertando num nó sufocante, 

revolvendo o estômago, e o cérebro, pesado ou vago, indistinto.


Amiudadamente sem razão aparente e vais procurá-la dentro de ti,

por entre a amálgama disforme de emoções e sentimentos,

que se vão alastrando e misturando numa receita incongruente.

E esconde-se, disfarça-se em sinais físicos,

Irreais, pois que apenas são o reflexo da sua intrusão.


Sente-se bem viva quando surge, o coração bate e rebate,

numa cadência desenfreada, arrítmica, que parece chegar à boca, 

mas não se exala, fica retida numa anátema corrosiva.

Procuram-se remédios e mezinhas, que não a saram, 

regressa, feita um viajante que vai e volta. 


E procura-se algures, uma voz que nos oiça, por um instante que seja,

como um pedido de socorro, humilde e momentâneo.

Uma palavra amiga apenas, que num ápice dilua esse turbilhão presente. 

Por vezes, apenas escutar a nossa dor é quanto basta,

desvanece-se como num passe de mágica, ou milagre talvez. 


Para que não surja regular e invariavelmente,

acarinhemos as vozes com que podemos contar.

Procurando dar à voz do nosso próprio interior entendimento, 

e às que nos rodeiam e sabes que estão lá para te escutar, firmes.

Pois enquanto forem presença, a angústia estará ausente.


(Adriano Costa / 27-06-2022)