Sem propósito nem hora marcada, eis que chega inesperadamente.
Invariavelmente sem aviso prévio e sem dizer como, instala-se.
Não ocupa espaço, preenchido que fica pelo vazio,
ensombrando a alma e apertando num nó sufocante,
revolvendo o estômago, e o cérebro, pesado ou vago, indistinto.
Amiudadamente sem razão aparente e vais procurá-la dentro de ti,
por entre a amálgama disforme de emoções e sentimentos,
que se vão alastrando e misturando numa receita incongruente.
E esconde-se, disfarça-se em sinais físicos,
Irreais, pois que apenas são o reflexo da sua intrusão.
Sente-se bem viva quando surge, o coração bate e rebate,
numa cadência desenfreada, arrítmica, que parece chegar à boca,
mas não se exala, fica retida numa anátema corrosiva.
Procuram-se remédios e mezinhas, que não a saram,
regressa, feita um viajante que vai e volta.
E procura-se algures, uma voz que nos oiça, por um instante que seja,
como um pedido de socorro, humilde e momentâneo.
Uma palavra amiga apenas, que num ápice dilua esse turbilhão presente.
Por vezes, apenas escutar a nossa dor é quanto basta,
desvanece-se como num passe de mágica, ou milagre talvez.
Para que não surja regular e invariavelmente,
acarinhemos as vozes com que podemos contar.
Procurando dar à voz do nosso próprio interior entendimento,
e às que nos rodeiam e sabes que estão lá para te escutar, firmes.
Pois enquanto forem presença, a angústia estará ausente.
(Adriano Costa / 27-06-2022)