domingo, 20 de maio de 2012

NA VERDADE DAS MINHAS PALAVRAS

20-05-2012


Que minhas palavras sejam sempre
o espelho de minh’alma e meu sentir
ditadas pelo sentimento e verdade
Que meus pensamentos sejam livres
sem fazer  deles argumentos
artefactos ou justificações
nem mudem seu sentido e compreensão.
Que meus gestos sejam simples
em moldar o barro fresco das atitudes
mostrem de forma clara e transparente
o carácter de quem as moldou.
Que minha força e dignidade
sejam genuínas e autênticas
naquele egoísmo saudável
de querer estar bem comigo
sem cair no abismo fácil de me tornar
egocêntrico e o centro de tudo.
Que minha estima e orgulho próprio
não se tornem vaidade e soberba
do que não sou e quero parecer
apenas e tão só aquilo que sou e tenho
de olhar no espelho e acreditar no que vejo.
Que minha diferença e a dos outros
seja amável e complacente
não por agrado nem arrogante
antes em aceitar e tolerante.
Que meu lado e sentido carente
seja fruto natural de colo ausente
e nunca  por falta de amor nem capricho.
Que minhas escolhas e fazeres
não virem o valor contra mim
num vazio de sentido e inutilidade
nessa vida desnivelada e deserta
pois ela tem verdura e frescura.
Que minha hora seja na altura certa
não como eu desejo e a meu jeito
e no meu tempo que nem eu sei.
Que meus sonhos de fazer
sejam construídos sem pressa
e se hoje outras mãos me pedem
que as segure, ampare e levem
essas núvens e castelos sonhados
não se tornem cinzentos por aguadarem.
Que o que em mim me transtorna
seja por mim entendido e sentido
pois é em mim que devo procurar
a razão e o sentido do desconforto
é em mim que reside e não nos outros
ou nas circunstâncias da vida
Que todas essas emoções me segurem
me retornem ao lugar presente
de alegria e contentamento de viver!


sábado, 12 de maio de 2012

ADÁGIO NOCTURNO


12-05-2012

Não importo de estar só
quando preciso me encontar
pensar em mim e no que sou
ou não pensar em nada sequer
abraçar o mar que me afaga
sentir a brisa no meu corpo
nu estendido na areia.
Se possível
partilhado seria um idilio
mas gosto desses momentos de paz
do meu tempo e meu espaço,
como respeito o de cada um
ontem, hoje e amanhã.
Mas por vezes aqui deitado vem
esse adágio nocturno
de momentos lentos de solidão
que as horas tardam em passar.
Rodeado de amigos e queridos
e de quem todos os dias
alegra e encanta meu dia
e com deleite também o faço,
não por obrigação ou hábito,
mas por vontade de contar
as flores que colhi para lhe oferecer
assim tenho muito do que desejo,
mas chega a noite de mansinho
pela madrugada os galos cantam
sinto uma solidão atróz
uma carência que vem feroz
de partilhar o que sou
e a felicidade que em mim reside.
Contradição que não existe
é o estado de espírito que a define
contra o sentimento que fala
em determinado momento.
Tenho sonhos como todos
construo castelos no ar como criança
mas como homem quero transportar
imagino e desenho a vida e a entrega
a esse amor que tanto tenho
a essa paixão ardente e contínua
que não apenas de um momento
sempre presente e ausente
não como um dependente,
mas levá-la junto pela mão
segura pela praia deserta.
Dou o que tenho pelo que sinto
a um amigo ou a um mendigo
não de todo por altruísmo
apenas porque o coração
e o dever de estar na sociedade
assim o diz e entende
e porque a dar fica-se feliz.
Mas quando da entrega
se faz rogado o pedinte
ou tomando por tolo o benfeitor,
tudo se desfaz e se destrói
porque pede por não querer
seu próprio pão amassar
antes que lho dê na mão,
ou de mim tirar proveitos,
de uma promoção ou defeito seu.
Pode levar anos estendendo a mão
e a bater nas costas sorrindo
mas para quem a utiliza
a mentira de ontem
é de fácil esquecimento
e num ápice de contradição
a verdade logo se reflecte
em palavras e gestos se desdiz
e essa não se esquece
é tão fácil reconhecê-la
mesmo que durante anos
tivesse mostrado o contrário.
Gente cínica e hipócrita
Que para seu fim
o meio pouco importa .
Já passei por tudo isso
e tudo aprendi com dignidade
mas assim atento cresci 
e num instante transforma em cinza
o que antes era sólido,
a esses que ontem o fizeram
olho com indiferença
pela infelicidade em que vivem
eu estou bem, sigo o meu caminho.
Por isso deixei de acreditar
em certas palavras tão vulgares
que se dizem a toda a hora
mas não se sentem de dentro
e a todos as dizem.
Prefiro esperar talvez por tudo ou por nada
porque nada depende só de mim
apenas mostrar o que sou
e aquilo que tenho partilho
fazendo o que a consciência me dita.
Há quem não entenda
esse sentimento leal
e verdadeiro para comigo mesmo
e naquilo que minha alma sente
pois é com ela que eu vivo
e com ela quero estar bem
porque é ela que me comanda
e dá ordens aos meus gestos.
Podia calar a dor correndo
de corpo em corpo pulando
como tantos o fazem,
e parecem ter sucesso,
É fácil e tão simples fazê-lo
todos os dias estão à vista
no olhar e na sedução
como se fossem uma tentação
num estalar de dedos breve,
mas que a mim nada me dizem
minha carne não é fraca
nem meu coração vagabundo
e prostituir minha forma de ser
corromper meus sentimentos
por simples dóceis momentos
que transportam o enorme vazio
não faz parte de mim
não é isso que procuro
não é isso que encontrei
em momentos diferentes
outrora e no presente.
Sim, sinto-me só ou apeado
mesmo no atropelo da multidão
que na pista vai dançando
e meu pé não está talhado
ou no palco desta vida
cheia de gente perdida,
que eu não estou...
apenas só no silêncio da noite
onde o tic-tac do relógio
lembra o tempo passado
de todos os tempos que se vivem
que num tic diziam que sim
e num tac diziam que não
numa hora faz que pede
noutra afasta e rejeita.
Não,
não tenho a sombra de um lado
e a luz do outro
nem penso hoje como um anjo
e amanhã como o diabo,
Sei seguro o que quero
tanto de manhã como à noite
sempre com a mesma clareza.
Não tenho em cada ombro
ou no interior de mim,
como muitos que conheci,
duas figuras de retórica
que lhes tolda a mente.
A minha palavra é sempre a mesma.
Se dou é porque quero
a quem o merece receber
porque também recebo
de outros que me dão.
Não sou mártir ou santo,
para altruísmos pregar
sou pecador como humano
sinto os mesmos cheiros e desejos.
Só a solidão que  sinto agora
não tenho como trocar!
Mas logo é de manhã
rosas irei colher do meu jardim
e entre elas respirar
o doce cheiro do jasmim.
Novas esperanças renascem
A vida merece ser vivida
e sorrindo-lhe ela me dará
seu seu sorriso de volta.
Num alegro e andante ritmo,
subtil e afectuoso,
o adágio nocturno não passou
de um momento da peça.



domingo, 6 de maio de 2012

MINHA MÃE

06-05-2012

Com as tua dores
me pariste e vi a luz
naquele dia num moinho
rodeados de mato e senzalas
foi o teu sofrimentos afinal
que me fez crescer e o que sou
foi pela tua mão chorando
que no primeiro dia fui aprender
as letras e os círculos da vida
tuas lágrimas vi correrem
pelas vezes que meu sangue jorrou
de joelhos esfolados e testa quebrada
de brincadeiras de crianças
reprimendas e educação recebi
de preocupação e amor de mãe
dádivas foste espalhando
em mim e nos meus frutos
assim fui aprendendo
e pelos anos foram passando
retalhos da minha vida
ânimo teu sempre acolhi
compreensão e carinho recebi
mesmo quando como dizias,
“quem não arrisca não petisca!"
e quando não corriam como esperado
prontamente respondias
“o que não tem remédio
remediado está”!
foi sempre assim que te vi
herdei de ti esses genes
viver a vida com alegria
entrega e devoção por bem querer
amar quem se ama sem olhar para trás
olhar em frente sorrindo
de cabeça erguida sempre
que o melhor está para vir.
ao pé das tuas as minhas dores
não foram mais que queixumes.
Toma a minha mão e firme segura
é o menino feito homem
que te leva mãe-criança!
um beijo enorme para ti


sexta-feira, 4 de maio de 2012

A CABRINHA QUE DESCEU DA SERRA

03-05-2012

Cabrinha nascida na serra
que por entre caminhos e pedras
pequenina e muito mimosa
pulavas e saltavas radiante
ora subindo as altas escarpas
ora num ápice descia ao ouvir
o toque do rancho ou do colo
que em sopas e migas à lareira
te cuidavam e mimavam
era rápido e lesto o repasto
querias avidamente os vales correr
numa ância alegre de viver
que ainda hoje faz de ti ágil.
Pulaste de montes e horizontes
teus caminhos feliz percorreste
crias deliciosas geraste e amamentaste
e novos frutos foste ensinando cabrinha
teu balir feito sábio,
teu olhar, tua vivência e teu exemplo
teu valor se fizeram respeitar
no pasto livre que tanto gostas
por isso és admirada e encantas
outros que como tu nesse verde prado
vão partilhando a mesma erva
bebendo da mesma seiva
e à tua volta rainha se agregam
admirando e se alegrando
da cabrinha ver chegando
altaneira e de olhar cativo
ora matreiro ora sedutor.
Em teu balir como um canto
suaves melodias vais trauteando
fazendo erguer de encanto
o olhar e os ouvidos do cavalo
com sua crina grisalha ao vento
ou ao touro bravio que se sustem
escutando embevecido teu chamamento.
Não só nas serras e nos montes
se detém traquina a cabrinha
lhe dá prazer junto com os outros
pular, saltar e bailar
como uma criança travessa
que alegremente joga ao eixo.
Peculiar esta cabrinha
pela praia procura o mar
por ele se deixa encantar
procurando como uma gaivota
pulando bem alto para a agarrar
voar nas asas do vento
seus sonhos e caminhos encontrar
para um porto seguro remar.
Tem um dom esta cabrinha
que o usa quando quer
pelos seus encantos e feitiços
como por artes de magia
em sereia se transforma
seduzindo com seu canto
seus olhos feitiços lançam
a quem por ela passa de dia
mas à noite como por encanto
volta a cabrinha a cobrir
seu manto de pele e veludo.
Foram dias foram anos
que a cabrinha foi conquistando
o tempo lhe deu sabedoria
mas a beleza sempre em alegria.
Continua doce cabrinha
a pular e a saltitar
teus olhos a cintilar
num constante pestanejar
risos e sorrisos vais deixando
teu perfume a jasmim exalando
num suave aroma no ar
nos nossos verdes campos espraiar.


quinta-feira, 3 de maio de 2012

ENCURRALADO

03-05-2012

Habituado à liberdade do espaço
Do próprio ar que fundo respira
Sente-se o touro no seu pasto rodeado
De cercas e estacas aprisionado
Tal como o cavalo ainda ontem corria
Livre ao vento pela sua pradaria
Sente o seu âmago encurralado.
É um tempo transitório
Definido pelas circunstâncias
De outros mais velhos e débeis
Do touro e do cavalo precisarem
Que só o tempo e a determinação
Podem cumprir sua obrigação.
Destemido em sua própria índole   
Amantes dos horizontes e verdes pastos
Querem o touro e o cavalo sentir
De novo esse contentamento
De correrem e de sentirem
O ar respirarem
E o mar abraçarem
Desocupados e encurralados
Atentos a nada a outros afectarem
Aproveitando a noite em que sós
Podem discorrer em liberdade
Por sonhos, pensamentos e desejos
Que sem pressa se transformem
Em doce e suprema realidade.
Ambos têm força e porte
De crina ao vento levantada
Ou pelo fogo que pelas narinas deita.
Que levem horas ou dias de faina
De amarras, sufoco e sacrifício
A breve trecho hão de concluírem
As suas obrigações e devoções
Fainas projectadas hão de criar
Para darem sentido ao tempo
Para de novo sentirem o vento
O ar da liberdade e movimento
E partilhá-los alegremente
Sem outras pressões nem cercas
Que apenas as do sentimento
Sem pressa das horas e do tempo 
Com quem semelhante a ele preza
Os mesmo sentidos e emoções.


terça-feira, 1 de maio de 2012

PALAVRAS EM FLOR

01-05-2012

Há palavras que voam no vento
E há palavras que por desnorte
Por sentimentos alheios
Como espinhos cruzados
Magoam quem as sente
Sente culpa quem as lançou
Mostrando o que não se é
Mesmo que o sentido
Não fosse o que seguiu.
No labirinto do entendimento
Vêm dúvidas e questões
Esquecendo o que antes
O calmo cristalino conheceu.
Pára mente desordenada
Volta a alma serenar
E a ti mesmo perdoar
És cavalo que em trote caminha
Não tomes o freio nos dentes
Lança mão aos teus dotes
Transporta o que sabes fazer
E resolve o teu caminho!

O mar bravio se acalma
Dá lugar de novo à bonança
Voltam as palavras doces
Ditadas pelo coração
São mimos, são ternuras
São mensagens sentidas
Pela alegria e prazer
De quem as volta a repetir
Todos os dias são diferentes
São sempre novos os momentos
Sem lamentos nem tormentos
Com o sorriso matinal
Não precisam remetente
Toma e segura doce dama
Esta rosa que te dou
Que sequem os pingos de chuva
Vê que tal como tu, o quão bela ela é 
E todas as manhãs feliz
Com a alegria de tas poder dar
Colherei sempre uma nova flor
Daquele meu jardim encantado.