sábado, 12 de maio de 2012

ADÁGIO NOCTURNO


12-05-2012

Não importo de estar só
quando preciso me encontar
pensar em mim e no que sou
ou não pensar em nada sequer
abraçar o mar que me afaga
sentir a brisa no meu corpo
nu estendido na areia.
Se possível
partilhado seria um idilio
mas gosto desses momentos de paz
do meu tempo e meu espaço,
como respeito o de cada um
ontem, hoje e amanhã.
Mas por vezes aqui deitado vem
esse adágio nocturno
de momentos lentos de solidão
que as horas tardam em passar.
Rodeado de amigos e queridos
e de quem todos os dias
alegra e encanta meu dia
e com deleite também o faço,
não por obrigação ou hábito,
mas por vontade de contar
as flores que colhi para lhe oferecer
assim tenho muito do que desejo,
mas chega a noite de mansinho
pela madrugada os galos cantam
sinto uma solidão atróz
uma carência que vem feroz
de partilhar o que sou
e a felicidade que em mim reside.
Contradição que não existe
é o estado de espírito que a define
contra o sentimento que fala
em determinado momento.
Tenho sonhos como todos
construo castelos no ar como criança
mas como homem quero transportar
imagino e desenho a vida e a entrega
a esse amor que tanto tenho
a essa paixão ardente e contínua
que não apenas de um momento
sempre presente e ausente
não como um dependente,
mas levá-la junto pela mão
segura pela praia deserta.
Dou o que tenho pelo que sinto
a um amigo ou a um mendigo
não de todo por altruísmo
apenas porque o coração
e o dever de estar na sociedade
assim o diz e entende
e porque a dar fica-se feliz.
Mas quando da entrega
se faz rogado o pedinte
ou tomando por tolo o benfeitor,
tudo se desfaz e se destrói
porque pede por não querer
seu próprio pão amassar
antes que lho dê na mão,
ou de mim tirar proveitos,
de uma promoção ou defeito seu.
Pode levar anos estendendo a mão
e a bater nas costas sorrindo
mas para quem a utiliza
a mentira de ontem
é de fácil esquecimento
e num ápice de contradição
a verdade logo se reflecte
em palavras e gestos se desdiz
e essa não se esquece
é tão fácil reconhecê-la
mesmo que durante anos
tivesse mostrado o contrário.
Gente cínica e hipócrita
Que para seu fim
o meio pouco importa .
Já passei por tudo isso
e tudo aprendi com dignidade
mas assim atento cresci 
e num instante transforma em cinza
o que antes era sólido,
a esses que ontem o fizeram
olho com indiferença
pela infelicidade em que vivem
eu estou bem, sigo o meu caminho.
Por isso deixei de acreditar
em certas palavras tão vulgares
que se dizem a toda a hora
mas não se sentem de dentro
e a todos as dizem.
Prefiro esperar talvez por tudo ou por nada
porque nada depende só de mim
apenas mostrar o que sou
e aquilo que tenho partilho
fazendo o que a consciência me dita.
Há quem não entenda
esse sentimento leal
e verdadeiro para comigo mesmo
e naquilo que minha alma sente
pois é com ela que eu vivo
e com ela quero estar bem
porque é ela que me comanda
e dá ordens aos meus gestos.
Podia calar a dor correndo
de corpo em corpo pulando
como tantos o fazem,
e parecem ter sucesso,
É fácil e tão simples fazê-lo
todos os dias estão à vista
no olhar e na sedução
como se fossem uma tentação
num estalar de dedos breve,
mas que a mim nada me dizem
minha carne não é fraca
nem meu coração vagabundo
e prostituir minha forma de ser
corromper meus sentimentos
por simples dóceis momentos
que transportam o enorme vazio
não faz parte de mim
não é isso que procuro
não é isso que encontrei
em momentos diferentes
outrora e no presente.
Sim, sinto-me só ou apeado
mesmo no atropelo da multidão
que na pista vai dançando
e meu pé não está talhado
ou no palco desta vida
cheia de gente perdida,
que eu não estou...
apenas só no silêncio da noite
onde o tic-tac do relógio
lembra o tempo passado
de todos os tempos que se vivem
que num tic diziam que sim
e num tac diziam que não
numa hora faz que pede
noutra afasta e rejeita.
Não,
não tenho a sombra de um lado
e a luz do outro
nem penso hoje como um anjo
e amanhã como o diabo,
Sei seguro o que quero
tanto de manhã como à noite
sempre com a mesma clareza.
Não tenho em cada ombro
ou no interior de mim,
como muitos que conheci,
duas figuras de retórica
que lhes tolda a mente.
A minha palavra é sempre a mesma.
Se dou é porque quero
a quem o merece receber
porque também recebo
de outros que me dão.
Não sou mártir ou santo,
para altruísmos pregar
sou pecador como humano
sinto os mesmos cheiros e desejos.
Só a solidão que  sinto agora
não tenho como trocar!
Mas logo é de manhã
rosas irei colher do meu jardim
e entre elas respirar
o doce cheiro do jasmim.
Novas esperanças renascem
A vida merece ser vivida
e sorrindo-lhe ela me dará
seu seu sorriso de volta.
Num alegro e andante ritmo,
subtil e afectuoso,
o adágio nocturno não passou
de um momento da peça.



Sem comentários:

Enviar um comentário