domingo, 19 de novembro de 2017

O cabo das Tormentas do ocaso

O tempo passa e a tempestade continua,
turbulenta, tenebrosa, de dementes vagas revoltas, 
sufoca-nos e envolve-nos em sucessivos turbilhões,
de impotência e raiva, num desnorte desconhecido.
E o vento sopra frio, forte e cortante,
dilacera-nos e confunde, sem saber como veio;
perde-se o rumo, o norte e a temperança,
em traços confusos dessa recta final.
Persistindo imparável esse Adamastor doentio,
como se a morte fosse a única esperança a dobrar,
libertando-nos da prisão deste leito de fel,
que sem tempo nos prende e amordaça, nos assentos desconexos,
onde amparada deambula,
feitos de dor, sofrimento, gemidos e ladainhas.
Mas até nesse Mostrengo demoníaco e poderoso,
por entre seus rugidos lancinantes, e trovões clamorosos,
encobre-se a única fraqueza de que padece,
o desígnio do epílogo impossível que o atormenta,
e que só a doença benigna do amor, poderá desfazer a sua figura,
e de novo retomar as lágrimas salgadas do seu ventre, o mar,
em doces e amenas águas cristalinas, onde um rio calmo e transparente fluirá,
trazendo, um dia, a suave brisa da tranquilidade.




segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Um beijo, um abraço e um sorriso.

Numa tarde serena de Outono
Olhei tua janela, e vi teu rosto lindo,
E gostei do que os meus olhos viram.
Então, olhaste também a minha janela
E gostaste do meu sorriso,
Era para ti que sorria.
E de mansinho, entraste assim na minha vida.
Ambos tínhamos as janelas abertas,
Escancaradas e de peito aberto,
E olhámo-nos com o coração.
Como num rendilhado mágico
Que dia a dia partilhávamos e tecíamos,
Numa cumplicidade crescente e encantadora
Compusemos, a nosso gosto, lindas melodias
Em acordes de perfeita sintonia.
E desde o primeiro momento,
Como partículas únicas do Universo,
Nos aconchegamos pela brisa,
Que serena, suave e fluida,
Em viagens de vai e vem
Ora para ti, ora para mim,
Sopra desde a foz do Tejo
Levando até ao calmo Douro,
Até ti meu Amor,
O nosso doce beijo,
O abraço quente e apertado,
Envolvidos num longo sorriso.
E desses beijos, abraços e sorrisos,
(A ordem é indiferente como tão bem disseste),
Nasceu a nossa bela trilogia de Amor,
Da Amizade franca e leal,
Do Companheirismo de toda a hora,
Dos nossos corpos de Amantes sedentos.
E posso dizer-te minha Querida,
Que desde aquele momento em que a janela se abriu,
E como diz o poeta,
Amo-te como se nunca tivesse amado antes
E sinto essa leveza em te amar,
Quando estou junto a ti,
Lado a lado de mãos dadas,
Ou quando as saudades na tua ausência,
Fazem-me sentir a todo o momento a tua presença!

(14/02/2017)
Photograhy by Teresa Dias

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

RENDILHADO MÁGICO

A magia não se cria,
Reinventa-se, descobre-se, desnuda-se,
Desfolhando os pedaços de beleza,
Que em tudo nos é dado observar,
Se estivermos dispostos a fechar,
A visão vulgar das coisas,
E abrirmos de par em par,
Com um sorriso nos lábios,
O olhar quente do coração.
Não se colhem apressadamente os detalhes,
Não se finge que se vê o que a alma não sente,
Nem no vislumbre fugaz daquela árvore,
À beira rio curvando-se,
Perante o Tejo ou o suave Douro,
Onde outrora se erguia imponente no seu porte,
Mas na beleza que teima e permanece,
No rendilhado das suas folhas,
Feitas em filigranas delicadas,
Não de ouro tingidas ou salpicadas,
Mas de verde e ocre puros,
Que o sol resplandecente lhes crava,
E que só os teus e os meus olhos vêm,
No caminho que de mão dada calcorreamos.
Porque só eles conseguem descobrir,
Nesse e noutros pormenores,
A magia desse corpo, nu e efémero.
Que finando o Outono, cai e desfalece,
Mas num passe mágico e persistente,
Que só o tempo o permite,
De novo na Primavera florescerão,
Cheias de vigor e luzentes,
E no calor do Verão seus finos ramos,
Como bilros em fusos subtis,
Desenham novas folhas, rendas e bordados.
Sim, é magia e são sonhos,
Que nossos olhos perscrutam,
Naqueles momentos únicos, que somados,
Ontem, hoje e amanhã,
Os continuarão a manter vivos e encantados,
Porque eles sucedem-se continuamente,
Porque queremos verdadeiramente olhar,
E sentir como nossos, o que poderia ser de muitos,
Mas que só a alguns, e a nós,
É permitido sonhar e olhar.
Apenas porque sim,
Por estarmos lá, e sabermos estar.

(03 de Janeiro de 2017)

Photographer: Teresa Dias