domingo, 21 de agosto de 2016

AMOR PERFEITO

Podia ser uma rosa,
Que qualquer principezinho,
Encantado ou feito marionete de trapos,
Sem pretensões a ser rei,
Dedicaria todo o seu tempo,
Regando-a e cuidando de seus espinhos,
Vendo-a crescer junto ao seu jardim.
Ao principezinho apenas lhe importava,
Esse belo e lindo jardim onde ela florescia,
O aprumo do seu palácio se seguiria,
No tempo oportuno e marcado,
Segundo as leis do regedor mor,
Para assim melhor a acolher.
Mas para mim, que agora escrevo,
É, mais que todas as outras flores,
O meu amor-perfeito, o mais lindo e único.
Não perfeito em todos os detalhes,
Que só na natureza há perfeição,
Mas é nesses pequenos detalhes,
Que despertam os nossos sentidos,
Toda a nossa aventura,
Da evolução e crescimento dos seres,
Se possível juntos... pensamos às vezes.
A áurea maior desse amor-perfeito,
A externa e visível a todos que a rodeiam,
Num carmim suave e doce como o seu rosto,
Não mais representam que a sua grandeza,
De mulher plena na sua natureza,
Buscando incessantemente forças,
Para amparar no seu colo os seus,
A sua vida e os outros que a procuram,
Numa imensidão que a esgota, mas perdura.
É a mais arredondada e mais lisa,
Ou não fosse o amor maternal o seu presente,
A sua dádiva dos deuses
E a todos superior.
Na do meio, de jasmim colorida e perfumada,
Sobressai a luminosidade do seu interior,
Rica e transparente nos sentimentos que afloram,
Nos sopros de esperança que procura transmitir
Aos outros, aos pedintes e menos favorecidos,
E mesmo aos que tudo julgam já ter, mas não são ainda.
Queira Deus que esse sopro de esperança,
Consiga deixar que se transmita a si mesma.
A outra áurea, a mais interna e intensa,
Que se abre como a lava dum vulcão,
Pertence à outra dos sentimentos,
Mas onde as suas emoções explodem,
E apenas verdadeiramente visível e acessível,
Aos que tiveram esse privilégio,
E a souberam enaltecer.
Tem a forma e os lábios de onde brotam,
Toda a sua sensualidade de mulher amante,
Da volúpia intensa onde o mel transborda por inteiro,
Do primeiro ao último momento do seu êxtase,
Carnal, infinito e sem mácula ou preconceito,
E onde o céu e o paraíso se fundem bem alto,
Pairando enquanto o tempo não tem medida,
Repousando depois de toda a sua exaltação,
Numa praia, que era só deles enquanto partilhada,
Ou no areal deserto doutros sonhos.
As raízes, essas, são feitas dos seus valores,
Dos seus princípios que continuam crescendo,
Resistentes no que já são, e vontade de querer,
A seiva que lhe vai fortalecer sempre,
Quando as inconstâncias e caprichos,
Ou as intempéries da vida a mais fragilizam.
Seja rosa, jasmim, girassol,
Ou simples flores silvestres,
Que crescem à beira daquele ribeiro manso,
Onde caminham e se estendem num verde manto,
Os corpos ardentes dos amantes,
Será sempre aquele amor-perfeito,
O mais lindo em toda a sua plenitude,
Que já vi e que, com ternura,
As suas pétalas afaguei
Naquele primeiro dia de sol,
E embevecido acariciava,
Sempre que a regava.
Cheirei o seu delicioso perfume,
E o seu doce e quente mel saboreei,
Levado pela abelha-rainha do amor.
Mas, tal como qualquer flor do jardim,
Ou da selva mais recôndita escondida,
E por muito que o fel custe e doa,
E parecer que se morre aos poucos,
Quando se ama como nunca, essa flor,
Não se pode colhê-la, mas deixá-la estar.
Pois o amor não está na posse, mas na apreciação.


(Adriano Costa – 21 de Agosto de 2016)