quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

CORES MIL

Setembro 2010
“CORES MIL”

Teu nome da luz
rebrilha o sorriso
lindo dos teus lábios,
as esmeraldas dos teus olhos
iluminam teu rosto
cândido e cheio de vida.
Voei nas asas do desejo,
nos sonhos por entre a noite
na esperança de me elevar
nas asas do teu amor.
Agora a dor me invade,
no sofrimento de te ver partir
choro de não mais ouvir
a música do teu riso,
em recordar o encanto
da tua alegria e calor.
Não são dias, não são anos,
que fazem o coração pulsar.
É o contentamento contente
de desfrutar o teu olhar,
a tua companhia,
a tua denguice,
o teu ser.
O tempo não tem tempo,
é quando se sente.
E eu senti forte e profundo
a paixão desabrochar,
o amor replicar na torre da minha alma.
Saboreei o mel dos teus lábios
e no calor do teu corpo
o meu peito se fundiu
em magia e doçura.
Sim, voei nas asas do desejo,
nos sonhos da noite,
na esperança de me elevar
nas asas do teu amor.
Mas qual tormenta oceânica,
num ápice desapareceste,
ficou o amor e a dôr
o lamento da ilusão,
a saudade do tempo que foi.
Perdido fiquei do teu corpo,
achado me encontro neste mar
de paixão e sofrimento,
desejando que a meu lado estivesses.
Como é longo e penoso
o caminho do desespero. 


terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O QUE AS GAIVOTAS ME DISSERAM

27-02-2012

GAIVOTAS

Parado no murete junto à praia,
olhando o mar calmo a espraiar-se,
nesta solarenga manhã de Inverno,
gaivotas saltitavam pela areia,
em busca de algum resto
de suspiros e desejos
que corpos e almas sedentas,
pela  noite dentro largaram.
E aquela gaivota de asas recolhidas,
junto a mim veio pousar,
 como se eu não existisse,
fizesse parte apenas do cenário
estático e sereno.
 Lendo o divagar do meu pensamento,
fixando o nada do horizonte,
numa contemplação pacifica,
me disse no seu piar sapiente,
que o mar também morria,
que o vento também se desvanescia.
Que a força do mar,
na languidão de uma onda
morre na areia junto à rocha
e que o vento sôfrego se desfaz
em mil brisas como num lamento.
Nessa bonança estendida,
que teimosamente persiste,
de gaivotas em repouso
e pescadores pela maré esperando,
 lembro as tempestades e tormentas
de dias chuvosos e escuros.
E antes essas que o tempo apaga,
que o vendavel das intrigas,
da inveja e cíume.
Antes a verdade dorida,
mas autêntica e íntegra,
que a dúvida e falsidade.
Antes amar mesmo padecendo,
pois todo o crescimento dói
de coração e alma escancarada,
que fechado numa concha,
inerte e só no fundo do oceano.


NO BAR IRLANDÊS

11-02-2012

No bar irlandês

No refúgio reconfortante,
quente e humano,
constratando com o frio
gélido e cortante da rua,
desse bar acolhedor,
procurei anciosamente
por entre mesas,
cadeiras
e alegres conversas,
a tua almejada presença,
a tua curvilínea silhueta
dum corpo lindo e perfeito
que tanto me encanta
me seduz e extasia.
Meu olhar cruzou-se
com alguém que não eras tu,
mas seguro avancei,
sabia que estavas com ela.
Então vi-te,
a respiração parou,
meu coração acelerou
numa cadência desenfreada
iluminando meu rosto.
Teus olhos sorriram
teus lábios se abriram
naquele cumprimento
tão teu
tão doce
tão peculiar
tão familiar.
“olá boa noite!”
... e tudo em meu redor,
em todo o universo,
para mim parou.
Como numa viagem de sonho,
única na minha existência,
mil e uma vibrações
e emoções encantadas,
me atordoaram,
me paralizaram,
me descontrolaram.
Meus sentidos
meus olhos
meus ouvidos
minha alma,
tudo em mim
se fixou apenas em ti,
no teu rosto
nos teus lábios
na tua sensualidade
no teu interior tão belo
puro e cristalino.
Alguém falava para mim,
mas nada mais
nem mais ninguém,
no meu espírito existia,
num incontrolável sentimento.
Todo o meu ser estremecia,
minha alma e meu corpo
se fundiram de encantamento,
meu peito ardia de emoção,
de ternura e paixão,
de embriaguês emotiva,
queria explodir e transbordar
todo esse nobre sentimento.
Minha voz e movimento
em pleno se desarticularam,
nem uma palavra,
nem um gesto
mais se articularam,
naqueles momentos inolvidáveis,
insondáveis
e tão virgens em mim.
Balbuciei qualquer coisa,
sem nexo
sem sentido,
de voz embargada
pedi algo,
o que foi não importa.
E mesmo não tremendo,
e sem os tombar,
a chávena entornei,
o copo balanceou.
Despertei por respeito
e às vozes à volta
dei atenção também.
Lentamente fui repondo,
forçosamente fui controlando
todo esse mar e turbilhão
de sentidos e emoções,
que de tão sentidos,
tão emotivos,
eternamente em mim ficarão,
de algo que assim nunca senti,
de cousa que nunca vivi.
Continuei a olhar-te,
a ouvir-te,
embevecido e terno.
E porque mais não posso,
não devo,
nem docemente
meus lábios pousar
naquilo que me é dado olhar
e sentir,
fica o desejo do beijo,
do mel ávido e sedento,
suave e meigo,
de pegar tuas mãos,
de acariciar tuas faces,
de te afagar com ternura,
de unir num só os corpos
num abraço envolvente,
cúmplice e reconfortante,
como aquela noite.
E resta fechar os olhos
e saborear carinhosamente,
esse longo e eterno momento.


SOMBRAS


1-07-2004
SOMBRAS

Vejo sombras entremeadas
de luz e travas
no meio do abanar,
suave e leve
dos ramos dos pinheiros.
Parecem lembrar-me
as incertezas e dúvidas
do que entre nós pôde existir.
Umas vezes os teus sorrisos,
outras os teus olhares,
ambos me fizeram sonhar.
Outras vezes a tua apatia
o afastamento do teu olhar.
Já não sei o que pensar,
ou o que sentir.
Não posso,
isso não,
esquecer o teu abraço
e o sentir tão perto dos meus
os teus lábios maravilhosos
que nunca chegaram a tocar-se.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

ALEGRIA

23-02-2012
ALEGRIA

Alegria é o palhaço no circo
Montado no seu cavalo de pau,
Correndo alegremente
Num trote desenfreado,
Bem elaborado,
Trazendo uma carta de amor.
Mesmo o palhaço pobre,
Entre lamúrias e ais,
Tropeçando à sua volta,
Verte uma lágrima de contentamento.
Alegria foi o teu nascimento,
E mais o teu,
Um de cada vez.
Sentir cá dentro
Essa emoção inexplicável,
Em que tudo pára,
Tudo é contentamento
E contemplação.
Alegria é o teu crescimento,
E mais o teu,
Um de cada vez,
Mas o mesmo empenho,
A mesma ternura
Contar histórias de adormecer,
Cantarolar uma estrofe,
Para vos embalar.
Alegria é ter de novo,
Todos esses sentimentos.
 Brincar,
mimar,
deliciar,
Os novos rebentos,
Novos ramos sedentos,
Da mesma seiva,
Da mesma árvore.
Alegria é voltar a ver-te,
Assim alegres e descontraídos,
Sem o peso do constragimento,
Fomos embora um do outro,
Mas porque houve uma razão,
E houve uma estação
Para tudo acontecer.
E sorrir porque aconteceu,
E se falou e se foi directo.
Não importa de que forma,
Ficou o lugar guardado,
A amizade intacta,
Desse nosso crescimento,
Desse nosso contentamento.
Alegria é acreditar de novo,
Parar e descansar.
Não fechar a minha alma,
Abrir-me no horizonte,
Até tu apareceres,
De uma visão de sonho,
De um encanto privado,
Como que trazida,
Nas asas do vento.
Alegria é olhar teus olhos,
Sem conseguir despregá-los,
Contar as vezes que pestanejam,
Num cintilar constante,
Vibrante
E delicioso.
São os meus olhos que assim vêm?
São, decerto que são,
Abençoados olhos meus,
Pelo que lhes é dado ver.
Alegria é escutar,
Embevecido e sem palavras,
Tua voz cristalina,
Que cativa e seduz.
Por simples e transparente,
O que ouço,
Escuto
E bebo avidamente,
Palavra a palavra.
Num sorriso,
num riso.
Alegria é ver-te viva,
Num dançar esfuziante,
Contagiante.
Libertares o teu corpo,
Elevares a tua alma,
Acompanhar o teu ritmo.





REENCONTRO

14-02-2012


Que pelas asas do vento
encontres o teu norte
e nas asas do sonho
se revele a tua sorte
num caminhar risonho
da procura de alento.
Reaprendes num voar lento
por entre algum desnorte
descortinar um caminho.
Em vâs tormentas és forte
e pelas emoções em desalinho
vais remando sem desalento.
A tua dor sem um lamento
serve de rumo e transporte
e enfrentando o bisonho
e triste cais de suporte
libertas-te do ar medonho
de todo esse tormento.
Tua luz e pensamento
se enlaçam num aporte
e de novo surge o sonho
de brilhante recorte
dando asas ao entresonho
num doce deslumbramento.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Em três tempos

1988
"Em Três tempos"


Não sinto o tempo

Tempo de dizer
que não,
ou que sim
finalmente.

Tempo de dizer

Que é tempo,
de procurar no tempo,
(no vazio do tempo)

Que se encontrou
um tempo
de ter tempo
para se ser algo.

Algo no tempo,
algo no espaço.

Tempo de ter
(um objectivo)
(um final)
(um intermédio)
(um princípio)

De se começar algo
e ter um meio tempo.

Para,
 de tempos em tempos,
ter tempo
de pensar em si,

e na saudade do tempo
que para trás já ficou.

Pensando
nas noites que surgirão
no tempo de amanhã.

No pão
de hoje,
que é tempo de procurar.
Na casa
de amanhã
que é tempo de sonhar.

Sonhar
enquanto é tempo
de ter tempo
para procurar
o tempo de fazer
a casa antes do caixão.

Procurando enfim,
como em tempos
dizia a canção,

Um tempo
de ser livre,
um tempo
de acreditar.

Um tempo
de não ser tarde,
de ser tempo
para ter tempo
de amar;

E um tempo
para nascer.