quinta-feira, 12 de novembro de 2015

À Deriva ("Il n'y a pas des marins")





Num mar cruzadod correntes e traçados,


que ora são concorrentesd e viram coincidentes

ao sabor dos ventos e de ondas enlaçadas,

vai  vogando uma caravela simples nos seus mastros,

de velas arreadas,

com seu leme desgovernado,

ao desvario da sorte, num desvario rumo sem norte.

Não clama marinheiro,

não chora fortuna,

espreita antes a desventura

por detrás daquela vaga,

no desvanescer da espuma

do encontro com as rochas.

Gaivotas não se ouvem,

farol não se vislumbra,

cantando seu próprio canto,

de sereia malfadada,

sem ter fundo a seus pés,

nem sentir a areia que chega.

Afaga seu corpo na onda fria do mar

querendo o abraço ávido de ter,

o ser que por entre si se escorre

na água que se lhe atravessa,

sem agarrar ou palpar.

Fechando as mãos num vazio,

líquido e feito de nada,

como o nada que fica,

do mergulho salvador,

no turbilhão dos sentidos,

em que agora o sonho se afoga,

calmo e silencioso

num remoinho que nos afunda.
(1990)