domingo, 19 de novembro de 2017

O cabo das Tormentas do ocaso

O tempo passa e a tempestade continua,
turbulenta, tenebrosa, de dementes vagas revoltas, 
sufoca-nos e envolve-nos em sucessivos turbilhões,
de impotência e raiva, num desnorte desconhecido.
E o vento sopra frio, forte e cortante,
dilacera-nos e confunde, sem saber como veio;
perde-se o rumo, o norte e a temperança,
em traços confusos dessa recta final.
Persistindo imparável esse Adamastor doentio,
como se a morte fosse a única esperança a dobrar,
libertando-nos da prisão deste leito de fel,
que sem tempo nos prende e amordaça, nos assentos desconexos,
onde amparada deambula,
feitos de dor, sofrimento, gemidos e ladainhas.
Mas até nesse Mostrengo demoníaco e poderoso,
por entre seus rugidos lancinantes, e trovões clamorosos,
encobre-se a única fraqueza de que padece,
o desígnio do epílogo impossível que o atormenta,
e que só a doença benigna do amor, poderá desfazer a sua figura,
e de novo retomar as lágrimas salgadas do seu ventre, o mar,
em doces e amenas águas cristalinas, onde um rio calmo e transparente fluirá,
trazendo, um dia, a suave brisa da tranquilidade.