quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Caminhando


Olhei pela janela, não vislumbrei teu rosto,
Nem pela porta, que bem me debrucei,
Dentro de mim sim, bem guardado está,
Com o mesmo sorriso, a mesma postura.
Escreve-se o que se sente, não o que se vê,
O que existe é ausente dos meus olhos,
Está na essência do ser, que perdura,
Nas contradições e vicissitudes da vida,
De passados remanescentes, e do agora.
Tal como a minha própria identidade,
No que sou, como soma de tudo o que fui,
Largando traços velhos, que a novos me abro,
Numa constante mudança, que será eterna,
Como a vida em si mesma ensina.
Cada um de nós é único, eu e tu que me lês o somos,
Não sou o que ninguém é ou foi, sou eu,
Com meus traços, minhas linhas, meus erros,
Não os erros de mais ninguém, só meus.
Por isso, e há muito, percorro um caminho,
De ler e olhar os outros, escutá-los,
É assim que vou saboreando o percurso,
Apreciando e bebendo a beleza, mesmo que fugaz,
Dos detalhes e pormenores simples,
Que rodeiam a estrada, as pedras e as pessoas.
Colho as flores e os frutos, que a terra me dá,
Partilhando os seus aromas com quem quero,
E o tempo passa, hoje como ontem,
O combóio já partiu, e a janela continua vazia;
Só a brisa do vento passa pela porta.
Sim, ficaria feliz se entrasses por ela, de surpresa,
Não imaginaria dizer outra coisa qualquer,
Porque meu sentir e minha palavra são só uma,
Simples, concreta e definida,
E como escrevia o poeta, uma constante da vida,
Ontem, hoje e amanhã.

(12-09-2018)


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