segunda-feira, 16 de abril de 2012

TRAÇOS

16-04-2012

São linhas contínuas
coincidentes ou paralelas,
disformes ou conforme
desenham em papel
no ar, na areia,
círculos mágicos
triângulos obtusos,
ou quadrados
rectangulares ou escalenos.
Traços são marcas
da vida e do carácter,
dispostos também eles,
em grupos coniventes
no mesmo valor coincidentes,
ou de princípios divergentes
em ocorrências paralelas,
que se juntam no infinito;
uns não desenham,
mas desdenham,
definindo suas linhas, seus horizontes,
também eles obtusos,
quadrados ou redondos,
de traço erguido ou descaído,
conforme seguem dignos
ou do peso destruído,
aqueles de horizonte vasto,
estes de vista curta,
limitada e definida.
Todos os traços são marcantes
das linhas com que se cosem,
definem caminhos e rumos,
uns rectos outros sinuosos,
conforme as pedras no caminho,
traços em semi-rectas
que algures se desdobram
em encruzilhadas e escolhas,
outros em rectas sem fim
uns por seguirem seu destino,
outros por desnorte confusos
sem atinar a direcção
perdidos no tempo,
perdidos nem sabem onde.
De traços são ainda as linhas
que  definem a minha e a tua mão,
linhas da vida e do amor,
da saúde e da fortuna.
umas mais curtas outras longas,
onde a cigana encontra
o que o coração tanto procura,
lembrando o passado desafortunado
e o futuro sempre risonho
cheio de esperança e mais traços.
De traços bem visíveis
são as rugas do teu rosto,
que são a prova final
de que a vida valeu a pena,
são as marcas sentidas
da tanto rir e tanto chorar,
que belas que elas são,
são sinal do sentir
de coração e alma cheia,
que as vazias não as têm.
Como lembro também,
as rugas desses marinheiros,
traços da luta e da labuta,
da tez ao sol se batendo,
do sal do mar desbravado
e das horas, dias e dias
sofridos e mal dormidos,
procurando na sua lide
o sustento e a razão,
chorando lá longe no mar,
o coração em terra, que saudade.
Como as rugas por fim,
dessa camponesa bravia,
ou daquele moço franzino,
que pelas searas adentro,
desse imenso Alentejo,
vivem o trabalho de sol a sol,
de enchada e foice na mão,
ou no traço longo de uma vara,
varejando as azeitonas,
ou ripá-las por entre os ramos.
Rugas de uma vida de tantos traços,
cujo destino lhes traçaram,
por mais linhas se desfaçam,
não têm volta a dar.


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